EN PT


0077/2008 - Vocal Cares: question of prevention and health
Cuidados Vocais: questão de prevenção e saúde

Author:

• VALERIANA DE CASTRO GUIMARAES - Guimarães, V.C. - GOIANIA, GOIAS - HOSPITAL DAS CLINICAS/UFG - <valerianacastroguimaraes@gmail.com>

Thematic Area:

Não Categorizado

Abstract:

Abstract
Idealized by Brazilian doctors, the Semana Nacional da Voz (National Week of the Voice) conquered the world due to the huge reached success. This study has as objective to demonstrate results gotten during the 9ª Semana Nacional da Voz (9th National Week of the Voice) realized in the Hospital das Clínicas da UFG. During the event, 125 patients had been selected by the team of phonoaudiology, they had manually filled a questionnaire elaborated for the campaign, in the validity of possible pharyngolaryngeal alterations. The patients had been examined by the otorhinolaryngologist using indirect laryngoscopy and, when necessary, submitted to videolaryngoscopy. After medical evaluation, it was observed that 52 people (41,6%) had presented alterations in the speech organs or in proximal regions, in one patient paralysis of left vocal fold was detected and one patient presented tumoral injury. Considering all the patients attended, only one presented malignant neoplasia (squamous cell carcinoma), confirmed later by biopsy.

Keywords: laryngeal illnesses, huskiness, voice, neoplasia, prevention.

Content:

Introdução
A laringe é uma estrutura músculo cartilagíneo com função específica de produção de som na fonação, função respiratória e esfincteriana. Freqüentemente acometida nas doenças que se manifestam por meio das disfonias, como em outras estruturas, a laringe é vulnerável às mais variadas enfermidades, o que se agrava mais diante de determinados fatores de risco (etilismo e tabagismo) 1,2,3,4.
A voz humana é única, faz parte de nossa individualidade, e, é por meio dela que podemos expressar nossos sentimentos e emoções, nos comunicar, além de ser instrumento de trabalho para a grande maioria da população 5,6,7,8,9,10.
Entre a população brasileira, a disfonia é a forma mais comum dos transtornos vocais. De origem multifatorial, a disfonia apresenta-se como qualquer distúrbio da voz em decorrência de uma alteração funcional e/ou orgânica do trato vocal11,12.O uso abusivo e inadequado da voz consiste em um importante exemplo de causa de disfonia 10.
A Academia Brasileira de Laringologia e Voz estima que 20 a 30% dos brasileiros são acometidos por algum tipo de lesão nas pregas vocais. Enfermidades como essas, quando não tratadas adequadamente, podem evoluir para alterações mais severas, como o câncer de laringe, que afeta 15 mil brasileiros por ano3.

O estado de São Paulo tem uma das mais altas prevalência de câncer laríngeo no mundo. A exposição profissional a agentes químicos e antecedentes familiares estão associados aos fatores de riscos ao câncer de laringe13. O consumo de tabaco e bebidas alcoólicas ocupam papel de destaque entre os riscos para as neoplasias de cabeça e pescoço 13,14, 15,16,17.

O diagnóstico e tratamento precoce do câncer de laringe elevam em mais de 90% as chances de sobrevida livre da doença3. Os especialistas consideram que a rouquidão persistente, pigarros, dores na garganta, dor e dificuldade ao engolir, dificuldade para respirar, cansaço vocal e perda da voz podem ser indicativos de lesões na laringe3,6,10.
A Semana Nacional da Voz chega em 2007 ao seu nono ano. Criada por médicos brasileiros em 1999, conquistou o mundo devido ao enorme sucesso alcançado. Em 2003 o evento ganhou o reconhecimento das mais importantes entidades internacionais em Otorrinolaringologia como a Federação Internacional das Sociedades de Otorrinolaringologia, a Academia Americana de Otorrinolaringologia e a Sociedade Européia de Otorrinolaringologia. O reconhecimento gerou a aliança responsável pela homologação do 1º Dia Mundial da Voz, o dia 16 de abril. A campanha da voz tem por finalidade conscientizar a população sobre a importância e os cuidados com a voz, além de orientar e prevenir as doenças do mecanismo laríngeo3.

Lamentavelmente os hábitos de prevenção não fazem parte da cultura brasileira. Assim, o paciente com problemas vocais geralmente só procura o especialista quando a doença está bastante avançada.
Este estudo tem por objetivo demonstrar resultados obtidos durante a 9ª Semana Nacional da Voz realizada no Hospital das Clínicas da UFG.

Material e método

Em Goiânia, a 9ª Campanha Nacional da Voz foi comemorada pela equipe de Fonoaudiologia e Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da UFG no mês de abril de 2007. No evento foram examinadas 125 pessoas.
Primeiramente, os pacientes foram triados pela equipe de fonoaudiologia da instituição, mediante aplicação de um questionário especialmente elaborado para a Campanha da Voz. O questionário foi preenchido manualmente para cada indivíduo pelos fonoaudiólogos da equipe, abrangendo as seguintes questões: dados de identificação, identificação de queixas vocais com múltiplas escolhas: Tem voz rouca ou muito diferente dos outros? Fica rouco por mais de uma semana? Fuma? Há quanto tempo? Perde a voz? Faz uso profissional da voz? Grita muito? Fala demais? Tem voz fina (aguda) ou grossa (grave)? Pigarreia? Sente dor ou ardor na garganta? Tem amigdalites, laringites ou faringites freqüentes?(anexo). Na vigência de suspeita de possíveis alterações laringo-faríngea detectadas no momento da aplicação do questionário, pelo fonoaudiólogo, o paciente era encaminhado ao otorrinolaringologista para avaliação.
Em seguida, os participantes foram orientados pelo profissional, recebendo folder padronizado pela Campanha Nacional.
Durante a avaliação médica, o paciente era submetido à Laringoscopia Indireta – LI, esta realizada com auxílio de fotóforo e espelho laríngeo. A Anestesia local foi utilizada naqueles indivíduos com reflexo nauseoso mais acentuado, com xilocaína a 10%. Durante o procedimento foram observadas as possíveis alterações, conforme os achados otorrinolaringológicos propostos pela Campanha Nacional: exame normal, refluxo, paralisia, nódulos, laringite, pólipo, cordite inespecífica, lesão tumoral, alterações estruturais mínimas, cisto, leucoplasia, edema de Reinke, papiloma, úlcera de contato, outros (especificar), benigno/suspeita tumor, hipótese diagnóstica. Para confirmação do diagnóstico em 12 indivíduos foi realizado o exame de videolaringoscopia.

A partir dos resultados obtidos por meio dos questionários e avaliação otorrinolaringológica foram feitas as análise dos dados.

Resultados
Dos 125 indivíduos atendidos, 101 (80,8%) eram do gênero feminino; e 25 (19,2%) do gênero masculino, com idade de 16 a 80 anos, com média de 46,7 anos. A distribuição por faixas etárias pode ser evidenciada no quadro 1.
As profissões variavam entre 33 tipos diferentes sendo as mais freqüentes: do lar, 51 (40,8%); aposentados, 9 (7,2%); estudantes, 9 (7,2%); vendedores, 5 (4%) e costureiras, 5 (4%). Nas ocupações menos freqüentes, estavam três recepcionistas (2,4%) e 2 professores (1,6%).
Na triagem Fonoaudiológica, do total de pacientes avaliados, 29 (23,2%) relataram usar sua voz profissionalmente.
Cento e quinze indivíduos (92%) referiram mais de quatro queixas, entre as quais: pigarros em 64 pessoas (51,2%); dor ou ardor na garganta 61 (48,8%); rouquidão por mais de uma semana 43 (34,4%); perda da voz 43 (34,4%); voz rouca ou muito diferente dos outros, em 42 pessoas (33,6%); amidalites, laringites ou faringites freqüentes 32 (25,6%). Sete (5,6%) dos pacientes relataram somente uma queixa; e três (2,4%) não apresentaram queixa.
Os abusos vocais como gritar muito e falar demais foram relatados por 36 indivíduos (28,8%). Com relação ao tabagismo, 16 pacientes (12,8%) relataram média de 23,5 anos do vício.
Pela triagem preliminar fonoaudiológica, 81 pessoas (64,8%) apresentavam indícios de possíveis alterações vocais e/ou região orofaringolaríngea, sendo encaminhados para avaliação médica otorrinolaringológica. Após essa avaliação, 23 (30,2%) pessoas apresentaram refluxo; 11 (14,47%) pacientes tiveram diagnóstico de disfonia funcional; 5 (6,57%) laringite; 4 (5,26%) rinite alérgica; 2 (2,6%) amigdalite crônica; 1 (1,3%) faringite e 1 (1,3%) paciente apresentou hiperemia difusa. Três (60%) com fenda glótica; 1 (20%) paralisia de prega vocal esquerda e 1 (20%) lesão tumoral como mostra o quadro 2.
Entre os 81 indivíduos encaminhados ao otorrinolaringologista, 12 (14,8%) foram submetidos ao exame de videolaringoscopia para confirmação do diagnóstico.

Discussão

No presente estudo, a população consistiu basicamente em adultos, uma vez que a maioria dos indivíduos pertencia à quarta década de vida. Dentre as profissões, a do lar foi a mais citada. As queixas mais comuns eram pigarros, dor na garganta e disfonia. Dados semelhantes foram encontrados no estudo de Ferreira e Ferreira (2001).
No momento da aplicação do questionário, umas variedades de queixas foram citadas pelos indivíduos. Esses resultados pouco diferem dos encontrados por Ferreira e Ferreira (2001), uma vez que a grande maioria dos indivíduos apontou inúmeras queixas não sabendo precisar qual a principal4, provavelmente em função das múltiplas escolhas presentes no formulário aplicado pelos fonoaudiólogos.
A rouquidão persistente referida pelos indivíduos, foi a queixa considerada significativa uma vez que, a persistência da rouquidão pode ser indicativa de lesões laríngeas3,6,10.
Os indivíduos tabagistas referiram estar no vício a mais de duas décadas. Estudos demonstram que o fumo se manifesta como colaborador ao surgimento de lesões cancerígenas da laringe 13,14, 15,16,17.

A grande maioria dos pacientes encaminhados pela fonoaudiologia ao ORL apresentaram alterações vocais e/ou estruturas orofaringolaríngeas. Estes achados vêm ao encontro de estudos de vários autores que demonstram a concordância entre a avaliação fonoaudiológica e a avaliação médica no diagnóstico das alterações vocais e/ou laríngeas2,18. Entretanto, tais dados contrariam os resultados de Ferreira e Ferreira (2001), que aponta discordância entre as opiniões dos fonoaudiólogos e os resultados observados após avaliação otorrinolaringológica4.
Após avaliação otorrinolaringológica, os pacientes diagnosticados como portadores de disfonia funcional foram encaminhados à fonoterapia. Os com refluxo gastresofágico foram medicados e encaminhados a gastroenterologia. Aqueles com alterações extralaríngeas, como: laringite, amigdalite, faringite, rinite alérgica, hiperemia difusa receberam tratamento clínico. O paciente com paralisia de prega vocal esquerda foi agendado no ambulatório de otorrinolaringologia para seguimento ao tratamento. O seguimento clínico adotado nesta campanha, junto ao paciente, demonstra a viabilidade e importância de condutas como estas em eventos futuros.

O caso mais relevante avaliado durante a campanha apresentou no momento do exame clínico, hipertrofia de amígdala direita e lesão ulcerada infiltrativa em parede lateral de orofaringe e hipofaringe, sendo retirado material para biópsia na parede lateral da orofaringe e região sublingual. O paciente foi encaminhado ao ambulatório de otorrinolaringologia.

Na semana seguinte à campanha, o paciente retornou ao ambulatório de ORL. Durante a anamnese, o mesmo se referiu à rouquidão há dois meses, assim como tabagismo há mais de 20 anos, o consumo de tabaco favorece o surgimento de lesões neoplásicas de cabeça e pescoço 13,14,15,16,17. O diagnóstico histopatológico de carcinoma escamoso invasor confirmou a suspeita clínica. Atualmente o paciente encontra-se em acompanhamento com a equipe de oncologia.

Considerações finais
Das 125 pessoas atendidas na 9ª Campanha Nacional da Voz, 52 manifestaram alterações no mecanismo fonador ou estruturas proximais, e um paciente (0,8%) apresentou neoplasia maligna (carcinoma escamoso).
Todos os pacientes participantes da Campanha, com alterações, foram tratados e/ou agendados para consulta posterior dando seguimento ao tratamento. O paciente com carcinoma foi encaminhado ao serviço de oncologia.
Um dia de campanha demonstrou a magnitude e relevância do evento e do trabalho entre equipes, fonoaudiologia e otorrinolaringologia, bem como a importância da participação de fonoaudiólogos com experiência na área, em campanhas como esta, assim como a importância dos cuidados vocais na prevenção dos distúrbios vocais e do câncer de laringe.

Referências bibliográficas
1- Tuma J, Brasil OOC, Pontes PAL, Yasaki RK. Configuração das pregas vestibulares em laringes de pacientes com nódulo vocal. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2005; 71:576-81.
2- Nemr K, Amar A, Abrahão M, Leite GCA, Köhle J, Santos AO, et al. Análise comparativa entre avaliação fonoaudiológica perceptivo-auditiva, análise acústica e laringoscopias indiretas para avaliação vocal em população com queixa vocal. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2005; 71:13-7.
3-Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia: http://www.sborl.com.br (acessado em 19/abri/07).
4-Ferreira JB, Ferreira DS. Estudo Descritivo de 451 Atendimentos na Campanha da Semana Nacional da Voz. Rev. Bras. Otorrinolaringologia. 2001; 67: 90-3.
5- Fortes FSG, Imamura R,Tsuji DH, Sennes LU. Perfil dos profissionais da voz com queixas vocais atendidos em um centro terciário de saúde. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2007; 73:27-31.
6- Penteado RZ. Relação entre saúde e trabalho docente: percepção de professores sobre saúde vocal. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2007; 12:18-22.
7- Fuess VL, Lorenz MC. Disfonia em professores do ensino municipal: prevalência e fatores de risco. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2003; 69:807-12.
8-Gonçalves CGO, Penteado RZ, Silvério KCA. Fonoaudiologia e saúde do trabalhador: questão da saúde vocal do professor. Saúde Rev. 2005; 7:45-51.
9-Penteado RZ, Bicudo-Pereira IMT. Avaliação do impacto da voz na qualidade de vida de professores. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol. 2003; 8:19-28.
10- Behlau, M. Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.
11- Jardim R, Barreto SM, Assunção AA. Condições de trabalho, qualidade de vida e disfonia entre docentes. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2007; 23:2439-61.
12- Ortiz E, Costa EA, Spina AL, Crespo AN. Proposta de modelo de atendimento multidisciplinar para disfonias relacionadas ao trabalho: estudo preliminar. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2004; 70:590-6.
13-Wünsch FV. The epidemiology of laryngeal câncer in Brazil. São Paulo Med. J. 2004; 122:188-94.
14- Menezes AMB, Horta BL, Oliveira AL, Kaufmann RAC, Duquia R, Diniz A, et al. Risco de câncer de pulmão, laringe, e esôfago atribuível ao fumo. Rev. Saúde Pública. 2002; 36:129-34.
15- Goiato MC, Fernandes AUR, Santos DM, Conrado SN. Perfil dos pacientes acometidos por câncer de laringe atendidos no Centro de Oncologia Bucal-UNESP. Rev. Odonto ciência. 2006; 21:3-8.
16- R Pacella-Norman, MI Urban, F Sitas, H Cararra. Risk factors for oesophageal, lung, oral and laryngeal cancers in black South Africans. Br J Cancer. 2002; 86:1751-6.
17- Nemr NK, Carvalho MB, Köhle J, Leite GCA, Rapoport A, Szeliga RMS. Estudo funcional da voz e da deglutição na laringectomia supracricóide. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2007; 73:151-5.
18- Corazza VR, Silva VFC, Queija DS, Dedivitis RA, Barros APB. Correlação entre os achados estroboscópios, perceptivo-auditivos, e acústicos em adultos sem queixa vocal. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2004; 70:30-4.


Other languages:







Execution



Sponsors