0354/2007 - Occurrence of one outbreak of Hepatitis A in three quarters of the city of Vitória/es and its relation with the quality of the water of human consumption.
Ocorrência de um surto de Hepatite A em três bairros do município de Vitória/ES e sua relação com a qualidade da água de consumo humano.
Author:
• LINDALVA MARQUES DA SILVA - Silva, L.M. - SERRA, ESPÍRITO SANTO - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE/PREFEITURA DE VITÓRIA - <lindalvamarques5@hotmail.com>Thematic Area:
Não CategorizadoAbstract:
ABSTRACTThis work had as purpose to analyze the possible factors related with the occurrences of Hepatitis in the quarters the Great Victory, located Estrelinha and Inhanguetá in the City of Victory, State of the Espirito Santo, April the June of the year of 2006, and the quality of the water consumed for the population. They had been used as indicating of quality of the water the Free Residual Chlorine concentrations (FRC) and the presence of Coliforms Termotolerants. The carried through microbiological analyses in the water consumed for the studied communities had not presented resulted indicating of contamination for termotolerants coliforms and the texts of FRC determined in the January months the June had been always above of the minimum limit demanded by the legislation (Act 518/2004). The results showed that the occurrence of it outbreak of Hepatitis It can be related with the absence of physical barriers that hinder the contact them people with contaminated water and to adopted the practical deficiencies in the hygienical ones, individually, for the population place.
Keywords: Termotolerants Coliforms; Free Residual chlorine; Hepatitis A.
Content:
Os bairros Grande Vitória, Estrelinha e Inhanguetá ficam no entorno de área de mangue da região noroeste do município de Vitória, compondo uma região que abriga população de baixa condição sócio-econômica. O local é abastecido com água da Concessionária (Estação de Tratamento de Água de Vale Esperança), dispõe de coleta e tratamento de esgotos, é beneficiada com coleta pública de lixo doméstico de forma regular (diária) e as ruas dos bairros são calçadas ou pavimentadas, em sua grande maioria.
O Programa Vigiágua monitora mensalmente, entre outros, os parâmetros: Cloro Residual Livre (CRL) e as bactérias do grupo dos Coliformes em nove 9 (nove) pontos localizados na rede de distribuição de água tratada que abastece a região. Estes são importantes indicadores, principalmente o CRL, para a presença de vírus na água.
Após a confirmação dos casos de Hepatite A detectados foi iniciado o processo de investigação e acompanhamento do episódio sob a responsabilidade da Vigilância Epidemiológica e equipe do Vigiágua do município de Vitória.
Nas inspeções realizadas “in loco” verificou-se que as ruas desses bairros, que estão situadas mais próximas à maré, são freqüentemente invadidas pelas águas durante os períodos de “maré alta” o que implica em contato direto com os moradores.
A população local tem como prática usual o lançamento de lixo em área que fica próxima à maré facilitando a dispersão dos resíduos no entorno das residências, cujo efeito é ampliado tanto pela ação dos ventos como pelo acesso de animais.
Observou-se que a galeria de águas pluviais, existente no local, apresenta escoamento contínuo, supondo-se existir residências lançando seus esgotos diretamente no sistema de drenagem de águas de chuva. Segundo informações dos moradores, é comum as crianças usarem a galeria e as águas de maré, que invadem as ruas, para praticar mergulho.
Foram visitadas as residências que apresentaram casos confirmados de Hepatite A, verificando-se negligência quanto a cuidados primários de limpeza e falta de conservação da habitação, assim como grande número de pessoas habitando a mesma residência, o que certamente pode interferir nos processos de saúde-doença dos moradores.
A equipe da Vigilância Sanitária providenciou adequada inspeção na escola freqüentada pelas crianças acometidas pela Hepatite A não detetando a existência de fatores de riscos propícios à transmissão da doença.
Sendo uma das mais antigas doenças conhecidas pelo homem a Hepatite A representa um problema de saúde de grande importância para os países em desenvolvimento, devido aos altos coeficientes de incidência. Nos países desenvolvidos tem-se observado um declínio da incidência da moléstia, e um aumento na idade de aquisição da infecção, devido à melhoria das condições sanitárias e de higiene pessoal 1, 2, 3. As medidas preventivas inespecíficas para se evitar a exposição ao VHA (vírus da Hepatite A), tais como higiene pessoal meticulosa, melhoria dos padrões sanitários da comunidade e ausência de aglomeração humana, têm respondido pela diminuição da incidência da HA nos países desenvolvidos. Porém, em muitas ocasiões, tais medidas são impraticáveis e ineficazes, e até recentemente a única medida de controle específica contra a hepatite A era o uso da imunoglobulina humana normal (gamaglobulina humana), que proporciona proteção variável e por curtos períodos4. O desenvolvimento recente de vacinas de vírus inativados e de vírus vivos atenuados contra a HA tem possibilitado a obtenção de imunização ativa, duradoura e segura, tornando mais próxima a possibilidade teórica da erradicação desta doença5.
Considerando que o vírus da Hepatite A pode ser transmitido através da água, é imprescindível que esta seja submetida à desinfecção por processos adequados que representam uma etapa essencial para obtenção de água potável6.
A desinfecção da água é o processo de purificação cujo objetivo é destruir bactérias patogênicas e outros microorganismos que podem infectar o homem ao consumir água contaminada7. A etapa de desinfecção da água, portanto, é uma das mais importantes medidas de saúde pública, considerando que a sua prática tem reduzido, significativamente, doenças propagadas pela água refletindo sobre o aumento na perspectiva de vida da população8.
Os produtos de cloro são comumente utilizados para a desinfecção de água, sendo o gás cloro usado pela estação de tratamento que abastece a região estudada.
Os efeitos oxidantes e sanificantes dos derivados clorados são controlados pelo ácido hipocloroso (HClO), um produto resultante da hidrólise da substância clorada (equação 1). O HClO e ClO- (equação 2) representam o cloro residual livre (CRL)9.
Cl2 + H2O HClO (equação 1)
HClO ClO- + H+ (equação 2)
O cloro residual livre (CRL) representa o cloro presente na água sob a forma de ácido hipocloroso (HOCl), dissociado ou não dissociado; a sua presença assegura a qualidade bacteriológica da água 8.
CASOS DE HEPATITE A NOS BAIRROS CONSIDERADOS
Pelos registros da Vigilância Epidemiológica (SMS/Vitória) a quantidade de casos de Hepatite A nos três bairros estudados, que ocorreram de janeiro de 2000 a junho de 2006, estão na tabela 1.
Tabela 1 – Casos confirmados de Hepatite A
(Bairros Grande Vitória, Inhanguetá e Estrelinha)
Ano de ocorrência No. de casos confirmados
2000 1
2001 0
2002 0
2003 0
2004 0
2005 5
Até 06/2006 18
Fonte: Vigilância Epidemiológica do Município de Vitória/ES
A figura 1 mostra o gráfico representativo da evolução dos casos de Hepatite A que ocorreram nos três bairros estudados no período de 2000 a junho de 2006.
Figura 1 – Evolução dos casos de Hepatite A de 2000 a 06/2006
METODOLOGIA
Durante o período de ocorrência do surto de Hepatite A, de abril a junho de 2006, foram coletadas amostras de água dos locais de permanência dos indivíduos doentes, a saber: da rede de abastecimento de água, na área interna das residências e da escola freqüentada por eles.
Considerando que o vírus da Hepatite A é transmitido, exclusivamente, por via feco-oral e que os coliformes termotolerantes estão presentes, principalmente, na matéria orgânica fecal de animais de sangue quente, optou-se por selecioná-los como bioindicadores do agravo.
Todas as amostras de água coletadas foram analisadas pelo Lacen do Espírito Santo, para análise de coliformes totais e termotolerantes, utilizando o método do substrato cromogênico-definido ONPG-MUG (Colilert).
As análises de cloro residual livre (CRL) foram determinadas in loco através do método de comparador colorimétrico com disco, intervalo de 0,1 a 5,0 mg/L. Método do DPD (N,N dietil p-fenileno diamina).
RESULTADOS
A tabela 2 mostra os resultados de coliformes totais e termotolerantes na água da rede de distribuição da estação de tratamento de água que abastece a região dos bairros estudados.
Observa-se que os dados do Vigiágua referentes ao 1º. semestre de 2006 não indicaram a presença de coliformes termotolerantes na água da rede da ETA I (Estação de Tratamento de Água de Vale Esperança), apontando para a inexistência de contaminação por matéria orgânica de origem fecal.
Tabela 2 – Coliformes totais e termotolerantes da ETA 1 – 1º. Semestre de 2006
Pontos de Coleta Resultados para Coliformes em NMP/100 mL
Totais Termotolerantes
jan fev mar abr mai jun jan fev mar abr mai jun
P1 0 0 0 0 - 0 0 0 0 0 - 0
P2 0 200,5 0 0 - 0 0 0 0 0 - 0
P3 0 0 0 0 - 0 0 0 0 0 - 0
P4 0 0 0 0 - 0 0 0 0 0 - 0
P5 0 0 0 0 - 1,0 0 0 0 0 - 0
P6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
P7 0 0 0 - 0 0 0 0 0 - 0 0
P8 0 0 0 - 0 1,0 0 0 0 - 0 0
P9 0 0 0 - 0 0 0 0 0 - 0 0
A tabela 3 mostra os resultados de cloro residual livre (CRL) obtidos na rede de distribuição de água da ETA I. Observa-se que apenas um valor (2,5 mg/L) violou o máximo permitido para o parâmetro conforme exigido pela Portaria 518/2004, os demais resultados estiveram de acordo com os limites exigidos pela legislação: 0,2 a 2,0 mg/L. Este dado é importante tendo em vista que a concentração de CRL na rede de distribuição de água indica a capacidade residual de desinfecção do sistema público, caso ocorra a contaminação por matéria orgânica na água potável.
Tabela 3 – Cloro Residual Livre (CRL) na ETA I até junho do ano 2006
Pontos de coleta Mês do ano/Resultados para CRL (mg/L)
jan fev mar abr mai jun
P1 0,3 0,4 0,4 1,5 0,8 1,0
P2 - 0,4 0,3 1,5 - 1,5
P3 0,3 0,4 1,3 1,3 - 1,0
P4 0,4 0,4 1,6 1,0 - 1,0
P5 0,3 0,3 2,5 1,0 - 0,8
P6 0,3 0,3 0,8 1,0 0,8 1,3
P7 0,3 0,3 0,8 - 0,8 1,0
P8 0,6 0,5 0,5 - 0,5 1,0
P9 0,4 0,4 1,2 1,0 1,0 1,0
Fonte: Programa Vigiágua do Município de Vitória
A tabela 4 mostra as análises realizadas para as amostras de água que foram coletadas em pontos de consumo da escola e das residências dos indivíduos acometidos por Hepatite A, demonstrando que na época do surto a qualidade microbiológica da água estava de acordo com os padrões de potabilidade10.
Tabela 4 – Resultados de coliformes nos pontos de consumo selecionados – Ano 2006
Ponto
de coleta Localização do
ponto de coleta
Origem da água Resultados
CT CTermo CRL
PT1 (residência 1) Torneira pia Caixa d’água 0,0 0,0 -
PT2 (residência 1) Torneira tanque Caixa d’água 0,0 0,0 -
PT3 (residência 1) Torneira externa Direto da rede pública 0,0 0,0 -
PT4 (escola) Torneira do bebedouro Caixa d’água 0,0 0,0 -
PT5 (escola) Torneira externa Direto da rede pública 0,0 0,0 -
PT6 (residência 2) Tanque interno Caixa d’água 11,1 0,0 1,0
PT7 (residência 2) Torneira terraço Direto da rede pública 0,0 0,0 1,0
PT8 (residência 3) Torneira da rede Direto da rede pública 0,0 0,0 1,3
PT9 (residência 3) Torneira tanque Caixa d’água 0,0 0,0 -
PT10 (residência 4) Torneira tanque Caixa d’água 0,0 0,0 1,3
PT11 (residência 5) Torneira tanque Direto da rede pública 0,0 0,0 1,2
PT12 (residência 5) Torneira do terraço Caixa d’água 0,0 0,0 1,0
Fonte: Programa Vigiágua do Município de Vitória
Obs.: CT – coliformes totais; CTermo - coliformes termotolerantes
CONCLUSÕES
Pelos dados apresentados nas tabelas acima não foi encontrada associação entre a ocorrência de casos de Hepatite A e presença de coliformes fecais na água fornecida à população dos bairros citados.
Os dados indicam a relação de dependência entre o aparecimento de doenças, como a Hepatite A, e deficiências nos aspectos associados ao saneamento de uma comunidade.
Verifica-se a necessidade da inserção de diferentes áreas de atuação do poder público com o propósito de sanar problemas, originados por fatores ambientais e higiênicos, que interferem nas condições externas e internas de habitabilidade das moradias dos bairros selecionados.
BIBLIOGRAFIA
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