0712/2007 - Occurrence of intestinais parasites in carriers with mental disease assisted at Clinical of Repose São Marcello - Aracaju/Sergipe
Ocorrência de enteroparasitoses em portadores de transtornos mentais assistidos na Clínica de Repouso São Marcello - Aracaju/Sergipe
Author:
• Paula Andreza de Carvalho Souza;Cynthia Cristina Pagliari de Faro - Souza, P.A.C.;Faro, C.C.P.; Pinheiro, M.S.; Resende Neto, J.M.; Brito, A.M.G. - Instituto de Tecnologia e Pesquisa - ITP - <paulaaracaju@hotmail.com;cynthiafaro@hotmail.com;>Thematic Area:
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AbstractThe interhuman transmission, low level of personal hygiene, copophagic habits, among others, may contribute to the dissemination of intestinais parasites in individuals with mentais diseases. The object of this paper was to verify the occurrence of intestinais parasites in individuals with mental diseases assisted at Clinical of Repose São Marcello in Aracaju/SE, in the period between February and May at 2006, and track epidemiological aspects of the transmission. For that, were performed coproparasitologic exams, beging the samples, manipulated by Hoffmann, Pons or Janner (1932) technique and the epidemiological data was obtained from questionnaires applied to the legal responsible for each individual. There were 62,22% of patients infected by at least one parasite. Inadequacies regarding sanitation, habitation and habits of personal hygiene were also observed. This study stressed the importance of a monitoring constant of parasitisms and the observance continuous of the conditions that favor their transmission.
Key words: Mental diseases; intestinais parasites; epidemiology; Clinical of Repose São Marcello.
Content:
As infecções parasitárias do trato gastrodigestório constituem um grave problema no cenário da saúde pública no Brasil. Essas parasitoses refletem com uma boa margem de segurança as condições sócioeconômicas e de infraestrutura geral de diferentes comunidades. As referidas infecções ocorrem com intensidades variáveis a depender de fatores relacionados, principalmente, com saneamento básico e educação1.
Águas, alimentos e solos contaminados com resíduos fecais humanos e de outros animais contribuem para as transmissões e disseminações de parasitoses intestinais, precisando então, merecer prioritárias atenções2.
No que tange aos portadores de transtornos mentais, além dos fatores supracitados, pode-se incluir as questões comportamentais que eles tendem a apresentar no período de agudização da doença. Dentre elas, as cruciais são a coprofagia e os hábitos inadequados de higiene tanto pessoal quanto alimentar que agravam ainda mais a incidência de enteroparasitoses3-4.
Mediante o exposto, os objetivos desse trabalho foram de verificar a ocorrência de enteroparasitoses e rastrear variáveis relevantes como comprometimento psicomotor, condições socioeconômica, cultural e ambiental no seu âmbito domiciliar em portadores de transtornos mentais, assistidos na Clínica de Repouso São Marcello-Aracaju/SE, no período de Fevereiro a Maio de 2006, com a meta de traçar um perfil epidemiológico na amostra alvo desse estudo.
Metodologia
Trata-se de um estudo do tipo descritivo que abordou a ocorrência de enteroparasitoses em portadores de transtornos mentais. Para a realização da pesquisa de campo, escolheu-se a Clínica de Repouso São Marcello em Aracaju/SE, por ser uma clínica considerada padrão para tratamentos de portadores de transtornos mentais no referido estado. No período de Fevereiro a Maio de 2006, internaram-se nessa clínica 128 pacientes, entretanto, somente 90 pacientes (n=90) participaram desse estudo, posto que, apesar de ter sido esclarecido detalhadamente acerca dessa pesquisa aos responsáveis legais deles, apenas 90 assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Quanto à avaliação clínica realizada pelos Psiquiatras acerca do tipo de transtorno mental nos pacientes selecionados para esse trabalho obtiveram-se que 10 pacientes eram esquizofrênicos paranóides, 09 com esquizofrenia indiferenciada, 12 esquizofrênicos hebefrênicos, 09 com retardo mental moderado, 12 com transtornos afetivo do humor, 21 com transtornos mistos ansioso e depressivo, 07 com transtorno psicótico polimórfico sem sintomas de esquizofrenia e 10 com convulsões dissociativas.
No que concerne a colheita das amostras fecais, destinadas aos exames parasitológicos, utilizaram-se coletores do tipo universal contendo cerca de 30 mL de solução formalina a 5% por coletor. A solução teve como função estabilizar a amostra fecal.
As amostras foram encaminhadas ao Laboratório Central de Biomedicina da Universidade Tiradentes e manipuladas segundo a metodologia de Hoffmann, Pons ou Jannes (1932)5. Para execução do Diagnóstico Clínico Laboratorial utilizou-se o equipamento microscópio de luz.
Concomitantemente à colheita das amostras, aplicou-se um questionário com a finalidade de obter dados acerca do comportamento psicomotor do paciente, hábitos de perversão alimentar (coprofagia) e higiênicos durante o período de agudização e as condições socioeconômica, ambiental e cultural no âmbito domiciliar.
Resultados
Integralmente participaram da pesquisa 90 pacientes que foram internados na Clínica de Repouso São Marcello em Aracaju/SE nos meses de Fevereiro a Maio de 2006. Os resultados dos exames coproparasitológicos obtidos foram distribuídos em freqüência, tendo-se como positivos (62,22%) e negativos (37,77%) na população objeto desse estudo.
Na amostra positiva, 64,28% encontravam-se infectados por uma espécie de parasita, 32,15% por duas espécies e 3,57% com poliparasitismo.
Avaliou-se a distribuição das espécies parasitárias a partir dos exames fecais realizados nos portadores de transtornos mentais, conforme o gênero, donde se detectou que no gênero masculino 19,64% possuíam Ascaris lumbricoides, 26,7% Ancylostomídeos, 10,71% Strongyloides stercoralis, 3,57% Trichuris trichiura, 19,64% Entamoeba histolytica/ Entamoeba dispar e 1,78% Giardia intestinalis. Já no gênero feminino, foram encontrados os resultados de 8,92% Ascaris lumbricoides, 16,07% Ancylostomídeos, 1,78% Strongyloides stercoralis, 3,57% Trichuris trichiura, 16,07% Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar e 1,78% Giardia intestinalis.
Nessa pesquisa foi observado que 80,3% dos pacientes apresentaram durante o período de agudização da doença, distúrbios psicomotores que interferiram na higienização pessoal e 57,8% desenvolveram hábitos de coprofagia e ingestão de resíduos estranhos, a exemplo de terra, papel, filtros de cigarros, entre outros.
O costume em andar de pés descalços estava presente em 76,66% deles e a presença de parasitoses anterior a internação em 78,88%.
Quanto à renda familiar, 82,2% afirmaram ganhar mensalmente um salário mínimo, ficando evidente as dificuldades das famílias que possuem portadores de transtornos mentais em acolher, cuidar e participar do tratamento, oferecendo assim, uma sobrevivência digna aos seus doentes.
Discussão
Em um estudo realizado por Lima et al6 em portadores de transtornos mentais no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Florianópolis/Santa Catarina, os pesquisadores encontraram que dos 83 pacientes avaliados, 46,81% apresentaram-se positivos para parasitoses intestinais. Deles, 66,66% com uma espécie de parasita, 25,64% por duas espécies e 7,70% com poliparasitismo. Assim sendo, os dados observados nessa pesquisa corroboraram com os encontrados no estudo reportado.
Observou-se que algumas parasitoses foram mais elevadas no gênero masculino, semelhantes aos resultados encontrados pelos pesquisadores Cheng e Wang7, em portadores de transtornos mentais assistidos no Hospital Memorial de Chanq-Gung, Kwei-Shan, Tao-Yuan, Formosa. Eles argumentaram que em casos de distúrbios mentais, a exemplo as esquizofrenias e transtornos afetivos bipolares, somente o gênero do portador não fundamenta de forma palpável para determinar-se um modelo lógico da freqüência em relação às parasitoses, cuja justificativa se comunga nesse estudo com os autores acima mencionados.
Na literatura consultada, notou-se que vários pesquisadores8-9-3 relataram que em se tratando de portadores de transtornos mentais, principalmente no período de agudização, a ocorrência de distúrbios psicomotores, perversão de hábitos alimentares, apatia, déficit de atenção, agressividade extrapolada, alucinações, deficiência do pensamento, entre outros, atrelados aos efeitos colaterais causados por algumas drogas usadas para tratamentos psiquiátricos, favorecem de forma contundente para as alterações nas atividades ditas fisiológicas e comportamentais normais, carecendo de cuidados especiais por parte de todos que se relacionam com eles.
Os helmintos diagnosticados nos exames coproparasitológicos na população estudada foram geohelmintos, ou seja, eles necessitaram passar pelo solo durante seus ciclos evolutivos (fase de vida livre) a fim de tornarem-se infectantes. Para Chieffi e Amato Neto1, a freqüência de infecções por geohelmintos é influenciada por variáveis de natureza ambiental, e hábitos pessoais, tais como costume de andar de pés descalços e sentar no chão que podem facilitar ou dificultar suas ocorrências, fatores esses usuais em doentes mentais.
Já os protozoários observados Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar e Giardia intestinalis, eles são transmitidos através de seus cistos que são veiculados principalmente por água, mãos e alimentos contaminados facilitando assim, as reinfecções5.
Nas condições desse estudo não foi detectado o parasita adulto Taenia solium causador da teníase que habita o intestino delgado somente do homem. Segundo Shandera et al10 o homem usualmente adquire tanto a forma adulta desse parasita ao ingerir carne crua ou mal passada contendo as larvas de seu hospedeiro intermediário, os suínos, como também ao ingerir seus ovos eliminados através das fezes do portador do verme adulto. Esses ovos vão evoluir para larva que é denominada cysticercus cellulosãe em diversos órgãos do homem de forma peculiar no cérebro causando a neurocisticercose que desencadeia diversas manifestações clínicas graves em especial as Síndromes epilépticas.
Conforme Tavares11 as alterações mentais são freqüentes no decurso da neurocisticercose, tendo sido descritas Síndromes esquizofreniformes, transtornos do humor e deterioração cognitiva.
De acordo com Neves5 o diagnóstico confirmatório de neurocisticercose é realizado através de exames de imagem, especialmente os de Tomografia Computadorizada e Ressonância Nuclear Magnética que mostram com detalhes as alterações provocadas pela degeneração dos cistos.
Em dez pacientes que participaram dessa pesquisa foi observado a presença de distúrbios convulsogenos dissociativos, todavia, não foi detectado na sua anamenesia a presença de exames que confirmassem ou descartassem a presença de neurocisticercose.
Para Forlenza et al12 raramente os distúrbios mentais são definidos com exatidão, por não serem utilizadas ferramentas apropriadas para o diagnóstico psiquiátrico. Em virtude disso, os casos que cursam com perturbações menos intensas passam provavelmente desapercebidos. Por outro lado, a maioria dos estudo realizados por psiquiatras, tanto no Século passado como recentemente, de acordo com Agapejev13 estimaram em até 75% -100% o índice de pacientes acometidos por transtornos mentais na neurocisticercose.
Conclusão
A ocorrência de enteroparasitoses (62,22%) encontrada nos portadores de transtornos mentais assistidos na Clínica de Repouso São Marcello no período de Fevereiro a Maio de 2006 em Aracaju/SE, foi indubitavelmente preocupante.
Sugere-se que seja implantado um programa de educação continuada voltado à saúde, com a participação multiprofissional na Clínica de Repouso São Marcello com o intuito de conscientização, principalmente para os familiares dos portadores de transtornos mentais, visto que eles necessitam de cuidados especiais no que se refere à higiene pessoal, alimentar, domiciliar e peridomiciliar, bem como, uma política de saneamento básico adequado no âmbito familiar deles, além de melhorias sócioeconômicas por parte do governo federal.
Acredita-se que havendo a priorização dessas metas ao longo do tempo, observar-se-á uma mudança para melhor na qualidade de vida dos portadores de transtornos mentais assistidos pela Clínica de Repouso São Marcello.
Referências
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