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0711/2007 - Human Papillomavirus and health public: cervical cancer prevention
Papilomavírus Humano e saúde pública: prevenção ao carcinoma de cérvice uterina

Author:

• Angela Adamski da Silva Reis - Reis, AAS - Goiania-GO, Goiás - Universidade Federal de Goiás / Católica de Goiás - <angeladamski@gmail.com>

Thematic Area:

Não Categorizado

Abstract:

The present study aimed to evaluate the applicability of an educational booklet that contained information for the general population about promotion and prevention of infections and neoplasic process caused by the Human papillomavirus (HPV). The study was arranged in two phases. First, the booklet was given to 200 volunteers in the city of Goiânia-GO. The applicability of the booklet was evaluated without the necessity of proving former knowledge. In the second phase, a detailed analysis of the data was made and the booklet revealed applicable. Then, the educational material was published and 2.000 copies were distributed in a social event held by the Universidade Católica de Góias (UCG) in the city of Goiânia - GO. In the event, the booklet raised the interest of the general public and gave the volunteers a chance to participate in a study to investigate the presence of the HPV in the genital microbiote. The booklet proved to be applicable and reached its objective to inform and prevent. However, it’s necessary to promote and improve campaigns to the population about the HPV and its relations with the neoplasic process.

Keywords: HPV, health education and prevention


Content:

Introdução
A infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) é frequentemente comum em adultos jovens de ambos os sexos, com prevalência estimada entre 20 e 46%. A disseminação do HPV tende a ser universal entre os indivíduos sexualmente ativos, sendo o homem um importante fator propagador deste vírus entre as mulheres1, 2,3,4. O avanço contínuo das técnicas de detecção molecular tem possibilitado a identificação do genoma viral em associação com diversos tecidos, incluindo as células neoplásicas malignas 2,4,5.
Dos mais de 100 tipos virais molecularmente genotipados, cerca de 40 tipos tem sido encontrado em infecções na mucosa anogenital e é atualmente a infecção sexualmente transmissível mais freqüente6,7,8,9. Estes tipos virais são considerados carcinogênicos para o epitélio da cérvice uterina e esta associação é bem estabelecida1,2. O DNA dos HPVs de alto risco são detectados na maioria (92,9% a 99,7%) dos espécimes de câncer cervical invasivo1,2, 6, 7, 8, 9. Quanto aos fatores de risco relacionados à infecção por HPV, o número de parceiros sexuais demonstra ser o mais importante9. No entanto, outros fatores são considerados para o câncer da cérvice uterino como: alta paridade, uso prolongado de contraceptivos orais e tabagismo5. Desta forma, é necessário esclarecer a população sobre as formas de transmissão, diagnóstico, tratamento e formas de prevenção das infecções ocasionadas pelo HPV.
A compreensão da patogênese viral pela população é de grande importância para dinamizar as prevenções primárias e secundárias, gerando um novo enfoque na área da Educação em Saúde com ênfase no cuidado da saúde das populações humanas. Assim, as cartilhas educacionais aparecem como uma ferramenta eficaz por levar conhecimento consolidado de forma clara e compreensível ao público alvo10,11, gerando transformações conceituais na compreensão da História Natural da Doença.
Sob a égide “saúde para todos” do Ministério da Saúde / Sistema Único de Saúde, a Educação em Saúde deve comprometer-se a assistir à população geral12. E o interesse na Promoção e Prevenção da Saúde, tem como agenda central à problemática das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Desta forma, as infecções causadas por HPV caracterizam um problema de saúde pública no Brasil e em diversos países. A Educação em Saúde visa relacionar a qualidade e o compromisso com a vida e não, simplesmente, com a ausência de enfermidades 10,13. Para modificar o eixo do binômio saúde/doença para saúde, é fundamental estimular atitudes e novos procedimentos frente aos problemas da doença, de modo que a saúde seja encarada como responsabilidade de todos e não somente atribuição governamental.
O objetivo do presente estudo foi avaliar a aplicabilidade de uma cartilha educativa, que abordou informações de interesse da população para promoção e prevenção de infecções e neoplasias ocasionadas pelo HPV, com intuito de gerar mudanças da percepção individual do risco relativo a DST por HPV.

Metodologia
O material didático para informação da população, geralmente é um instrumento de leitura ou elementos ilustrativos que chamem atenção do leitor para o tema abordado. Assim, foi elaborada uma cartilha educativa intitulada “HPV e sua relação com o câncer”, contendo desenhos ilustrativos e uma linguagem de fácil entendimento, com informações gerais sobre o HPV (Figura 1), incluindo modos de transmissão viral, dados da patologia, diagnóstico e formas de prevenção.
De forma sucinta, as informações sobre o HPV relataram os tipos virais e as regiões anatômicas infectadas pelo vírus. A cartilha introduziu ainda, noções sobre os tipos virais e a capacidade destes em transformar e imortalizar as células, agindo como um fator de iniciação do processo carcinogênico.
A transmissão sexual é considerada como a principal forma de transmissão do vírus, 2,3,4,14 incluindo o sexo anal e oral, possuindo relação direta com o número de parceiros sexuais. Neste contexto, além de enfatizá-la como principal forma de transmissão, foram descritas outras como fômites e a contaminação vertical (Figura 2). Esta última merece destaque, pois os papilomas laríngeos e respiratórios recorrentes, de início juvenil estão associados à infecção por HPV e são transmitidos pela mãe com infecção anogenital ativa ou latente ao recém nascido durante o parto 4, 15,16,17.
A cartilha também informa aos leitores sobre a necessidade do auxílio da busca do serviço médico para o diagnóstico de infecção pelo HPV nas regiões anogenital e da cabeça e pescoço, quando na presença dos sintomas ou suspeita de infecção ou presença de neoplasia. No aspecto da prevenção, foi enfatizado o fator de risco da transmissão anogenital, com o objetivo de elucidar aos leitores sobre o HPV ser considerado o agente causal do carcinoma da cérvice uterina (Figura 2) e a importância da mulher fazer o exame preventivo Papanicolaou periodicamente. Adicionalmente, a cartilha estimula o uso de preservativos nas relações sexuais e a redução no número de parceiros.
O estudo foi dividido em duas etapas: a primeira, avaliando a aplicabilidade da cartilha como instrumento informativo e preventivo, e a outra com a publicação da cartilha, mediante aos resultados satisfatórios foi comprovada a sua aplicabilidade.
Na primeira etapa, a cartilha educativa intitulada “HPV e sua relação com o câncer” foi aplicada a 200 voluntários que trabalhavam em diversas categorias de um Órgão Público Estadual na cidade de Goiânia-GO de ambos os sexos, com nível de escolaridade variando do ensino médio ao superior. A aplicabilidade da cartilha foi avaliada sem a necessidade de conhecimento prévio dos participantes sobre o HPV. Os voluntários assinaram o termo de consentimento e responderam a um questionário após a leitura da cartilha.
O questionário era composto por 12 questões de múltipla escolha, que avaliaram o alcance da cartilha como instrumento de informação e prevenção (Figura 3). As questões eram de caráter educativo abordando o conhecimento sobre o vírus, as formas de transmissão, as regiões afetadas pela infecção, o risco do processo neoplásico na cérvice uterina, o diagnóstico laboratorial, a prevenção, as expectativas da cartilha quanto instrumento informativo e o interesse em informações adicionais sobre o HPV.
Após análise detalhada dos questionários, a segunda etapa foi realizada, sendo publicados 2.000 exemplares e distribuídos gratuitamente em um evento de ação social realizado pela Universidade Católica de Goiás (UCG) na cidade de Goiânia - GO de periodicidade anual – a 3ª Semana da Cidadania, com público alvo de 45.000 pessoas. No evento, a cartilha foi distribuída para os visitantes no Espaço Saúde da Mulher que contou com a participação dos Departamentos de Biologia, Biomedicina, Enfermagem e Medicina da UCG. Neste espaço, as mulheres que leram a cartilha e que manifestaram interesse em obter informações adicionais foram atendidas e aquelas que aceitaram participar voluntariamente de um estudo para a investigação da presença de HPV na microbiota genital, foram cadastradas e avaliadas para a presença do genoma viral pela reação em cadeia da polimerase (PCR).

Resultados
Na primeira etapa, a análise dos questionários permitiu avaliar a cartilha como instrumento de informação e prevenção. A faixa etária foi de 15 a 55 anos de idade em ambos os sexos, sendo a média de idade de 25 anos. A distribuição percentual por sexo foi de 40,5% e 59,5% para os sexos masculino e feminino, respectivamente.
Dos 200 questionários respondidos, 64,5% dos leitores não apresentaram conhecimento sobre o HPV e sua relação com o câncer. Para as questões relacionadas à transmissão, as regiões de infecção, o diagnóstico e a prevenção, a análise dos dados demonstrou que 90% do grupo amostral compreendeu o conteúdo abordado pelo instrumento informativo. Para a questão sobre o HPV ser considerado o agente etiológico do câncer da cérvice uterina, verificou-se que somente 74% dos participantes assimilaram esta informação. No entanto, a cartilha atendeu as expectativas, pois 98% dos entrevistados gostaram da apresentação e de suas informações, despertando o interesse dos leitores pelas formas de prevenção.
Na segunda etapa, a cartilha distribuída gratuitamente despertou o interesse de 500 mulheres sobre informações adicionais e pelo exame de detecção molecular para o HPV, destas 200 amostras foram coletadas na forma de lavado da cérvice uterina e encaminhadas ao Núcleo de Pesquisas Replicon da UCG para análise de detecção e genotipagem viral pela técnica molecular PCR. Posteriormente, os resultados foram entregues as participantes da análise molecular, e aquelas que apresentaram resultado positivo para detecção do genoma viral foram assistidas no Departamento de Medicina da UCG.

Discussão
A cartilha educativa intitulada “HPV e sua relação com o câncer” demonstrou que 64,5% da população analisada não apresentava conhecimento prévio sobre o HPV. Assim, fica evidente que são necessárias outras metodologias de prevenção e promoção da saúde, sobretudo na saúde da mulher, devido à infecção por HPV ser uma DST e um fator adicional para progressão do carcinoma da cérvice uterina. A população feminina predominou entre os leitores (59,5%). Nesse contexto, considerando a falta de informação sobre os fatores de risco para desenvolvimento neoplásico, um contingente feminino, maior alvo de neoplásicas relacionadas ao HPV, foi informado de seus riscos. Assim, a cartilha apresentou sua aplicabilidade quanto à prevenção de uma das neoplasias mais comuns entre as mulheres no mundo.
As questões do questionário que avaliaram a cartilha quanto sua aplicabilidade nos aspectos: da transmissão viral, das regiões afetadas pela infecção, do diagnóstico e da prevenção, revelaram a cartilha como instrumento satisfatório de informação, pois os dados demonstram que a população analisada absorveu significativamente o conteúdo informativo. Desta forma, podemos concluir que a cartilha educativa cumpriu seu papel como instrumento de veiculação e divulgação de conhecimento, pois as questões elaboradas eram especificas e procuraram avaliar se o leitor compreendeu o conteúdo informativo.
Quanto às expectativas do leitor sobre a apresentação e as informações da cartilha educativa, verificou-se que 98% a aprovaram como material referencial para auxilio na obtenção da informação em saúde. Além de motivar e despertar o interesse nos leitores para obter mais informações sobre o tema abordado.
A segunda etapa foi conseqüência do sucesso da primeira etapa. Sendo a cartilha publicada em número satisfatório e veiculada a diversos grupos sociais e culturais. Embora, a quantidade de 2.000 exemplares seja pequena, no referido evento da UCG, podemos afirmar que a distribuição causou impacto e repercussão positivos e foi eficiente na divulgação das informações básicas de prevenção e promoção da saúde naquela população.
A carência em estudos que avaliem materiais didáticos na Educação em Saúde compromete o estímulo para novas perspectivas na criação de contextos informativos. Assim, o presente estudo contribuiu para melhorar os horizontes de possibilidades para a Educação em Saúde, e, sobretudo, contribuir para dinamizar o acesso à informação a população leiga.


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Cite

Reis, AAS. Human Papillomavirus and health public: cervical cancer prevention. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2008/Mar). [Citado em 08/12/2025]. Está disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/en/articles/human-papillomavirus-and-health-public-cervical-cancer-prevention/1907?id=1907



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